quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Aquiraz: Cerâmica substitui queima da lenha pela biomassa

Iniciativa da indústria cearense ganha o Prêmio de Gestão Socioambiental do Instituto Chico Mendes

Vilã e predadora do bioma caatinga. Essa má reputação das olarias nordestinas e, especialmente cearenses, tem, agora, uma contrapartida que não apenas põe um fim à degradação da mata nativa, para fins de energia, assim como favorece um destino mais adequado para lixo orgânico que antes poluía o meio ambiente.

Por substituir a lenha pela biomassa para alimentar os fornos que transformam o barro retirado do aluvião em tijolos e blocos, a indústria cearense Cerâmica Assunção, instalada em Aquiraz, do Grupo Tavares, recebeu o Prêmio de Gestão Socioambiental do Instituto Chico Mendes.

O prêmio foi recebido pelo sócio-presidente da Cerâmica Assunção e Grupo Tavares, Lourival Assunção Tavares e sua filha Aline, em solenidade que aconteceu em São Paulo, no início deste mês, no Clube Sírio, durante o 1º Fórum Empresarial Chico Mendes de Sustentabilidade. A iniciativa também já teve o reconhecimento do Programa Setorial de Qualidade (PSQ), oferecido pela Associação Nacional de Cerâmicas (Anicer) e é ainda detentor do Selo Verde.

O prêmio foi o primeiro concedido pelo Instituto Chico Mendes para uma indústria de cerâmica vermelha no Brasil. O presidente da empresa, Lourival Tavares, disse que o mérito maior foi conceber uma unidade de olaria que utiliza 100% da capacidade energética de materiais orgânicos, que antes não apenas se destinavam a lixões, como se tornavam um problema ambiental sério para outros segmentos industriais, como a casca da castanha de caju, o pó retirado de madeireiras e resíduos de coco, dentre outros.

Atualmente, a Cerâmica Cearense produz um milhão de peças por mês. De acordo com Lourival, não há como comprometer a produtividade com o produto que será utilizado nos potentes fornos, onde a temperatura pode chegar até 935º C. Ele lembra que esses resíduos são exatamente aqueles que são rejeitos de outros segmentos industriais e com um descarte que sempre trazia um dano ambiental, especialmente pela emissão de gases.

Com o sistema criado pelas indústria Tavares, a produtividade é mantida e há também uma boa rentabilidade, uma vez que o sistema de automação é mais econômico do que as práticas convencionais.

Estiagem

Além do compromisso com o meio ambiente, Lourival lembra que a unidade é também uma forma de manter a oferta dos produtos, enquanto que outras unidades do Grupo Tavares podem se ressentir do prolongamento da estiagem. É que nas outras indústrias de cerâmicas, há o uso da lenha, mas dentro de um plano de manejo, onde não há agressão às espécies da Caatinga, como o marmeleiro, sabiá, mororó, catingueira, catuaba e jurema. O plano de poda de árvores e arbustos permite não apenas que os vegetais tornem a brotar, como mantém a fauna.

O diretor Marcos Tavares lembra que a iniciativa também ocorre quando há um leque de opções de materiais de construção que reduz o consumo da olaria. Ele lembrou do gesso e do isopor, que vêm sendo bastante utilizados em forros de casas e apartamentos, divisórias e outros usos.

"São materiais que acabam sendo mais econômicos para o construtor, apesar de superior em resistência ao gesso, principalmente, e mais resistente a incêndios do que o isopor", exemplifica Marcos.

Com a estiagem e um mercado muito mais competitivo do que no passado, é que a olaria, conforme observa Marcos, vem-se firmando no mercado por meio da automação e do compromisso com o meio ambiente.

Para Lourival, a alternativa encontrada pelo grupo foi uma forma de se adequar aos novos desafios, ao mesmo tempo em que houve uma percepção de que o respeito ao meio ambiente não somente era possível, como uma necessidade de sobrevivência para toda a sociedade.

O investimento nos equipamentos contou, em parte, com aqueles já existentes e fabricados no mercado nacional e outros que foram resultado da criatividade e de se aprender com os erros e acertos. Assim, foi adquirido um forno que funciona automatizado, e já existente em outras modernas olarias brasileiras, assim como foram criados trituradores, moinhos e secadores, utilizando a metalurgia e planejamentos dos empreendedores do Grupo Tavares.

Energia

Pode ser considerado biomassa todo recurso renovável que provêm de matéria orgânica tendo por objetivo principal a produção de energia. Uma das principais vantagens é que seu aproveitamento pode ser feito diretamente, por meio da combustão em fornos e caldeiras. Para que seja aumentada a eficiência e sejam reduzidos os impactos socioambientais no processo de sua produção.

A história do Grupo Tavares se inicia na década de 1950 às margens do Rio Pacoti, onde diversas famílias amassavam o barro e produziam cerâmica, principalmente telhas, utilizando pequenos fornos existentes. Entre estes produtores estava Raimundo Nonato Tavares, que na época produzia telhas do tipo macho - fêmea e manilhas. Com o aumento da demanda, foi necessária a construção de fornos maiores para a fabricação de mais produtos (além de telhas, manilhas e tijolos comuns). Durante vários anos, a família Tavares produziu e comercializou produtos cerâmicos para Fortaleza e diversas regiões do Ceará, adquirindo a experiência e o conhecimento necessários para o futuro.

No início da década de 1970, o mercado já apresentava sinais de modernização, quando surgiu a oportunidade de montar uma cerâmica com equipamentos e forno contínuo (Hoffman), por meio de financiamento. Assim foi erguida a primeira cerâmica e o nome não poderia ser outro: Cerâmica Tavares, hoje Cerâmica Assunção. Já em 1974, saiu a primeira carrada de tijolos furados do Grupo Tavares. Contando hoje com 21 unidades produtivas distribuídas nas cidades de Aquiraz (12), São Gonçalo do Amarante (três), Itaitinga (três), Caucaia (duas) e Horizonte (uma), gerando mais de mil e duzentos empregos diretos e quase mil indiretos.

O Grupo Tavares conta com um portfólio ativo de mais de sessenta produtos entre blocos de vedação (tijolos furados), blocos estruturais, lajes, cobogós, PMs, tijolos refratários e laminados. Tem uma capacidade produtiva mensal de mais de vinte e dois milhões de peças (22.000 milheiros).

Mais informações:

Cerâmica Assunção
Empresa do Grupo Tavares
Localizada a 18 Km da sede de Aquiraz
Telefone: (85) 3377-1262

Marcus Peixoto
Repórter


Fonte: Caderno Negócios – Diário do Nordeste (24/ 12/ 14)

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